Há a expectativa de que novas empresas interessadas apareçam, mas esse nem é o fator principal para o desdém. A lógica é de que os valores perdidos não são tão relevantes no orçamento geral do clube, que depende fundamentalmente da verba de TV da Série B para sustentar seu planejamento.
"A gente espera até segunda anunciar um novo patrocinador. É a prova de que tem pessoas com sua filosofia de vida e outras que pensam como eu", disse Rone Moraes, presidente do clube, na última segunda, logo após apresentar Bruno à imprensa. Além de Kanxa, Gois&Silva, Nutrends, Cardiocenter e Magsul, a Prefeitura de Varginha também pode retirar o apoio nos próximos dias.
"Se a Prefeitura de Varginha não nos quiser aqui, vamos embora", disse o mesmo Rone em entrevista à Veja.com, na última segunda, repetindo uma frase que viria a proferir outras vezes longe das câmeras nos últimos dias. Fundado em Ituiutaba, o Boa ganhou o nome atual e mudou-se para Varginha em 2011 quando a Prefeitura da antiga sede alegou não poder bancar uma reforma no estádio. Agora, a mesma cidade pode servir como válvula de escape.
"O Fued [atual prefeito, eleito ano passado] fez uma campanha no sentido de terminar o estádio e trazer de volta o nosso querido Boa a Ituiutaba. Não foi uma promessa, pois depende de recurso federal, mas é sim um desejo. Independentemente do escândalo do Bruno, a volta do Ituiutaba Esporte seria uma questão de tempo. A história do Bruno causou um impacto muito negativo e pode, sim, acelerar o processo", disse Vicente de Paula, secretário de Obras da cidade, em entrevista ao site Hoje em Dia.
A postura de desdém tem se repetido em diferentes entrevistas desde que os rompimentos. Rone, Rildo e Roberto Moraes, os três irmãos que tocam o Boa, explicam que Nutrends, Cardiocenter e Magsul eram parceiros menores, que apenas forneciam serviços e produtos ao grupo. A situação é parecida com a Kanxa, fornecedora de material esportivo que não pagava nada ao Boa, apenas cedia os uniformes. A única "pagante" era a holding Gois&Silva, mas o valor não era fundamental no balanço da equipe.
Os rompimentos têm um efeito midiático e reforçam a indignação à contratação de Bruno, que foi solto porque o STF entendeu que ele estava em prisão preventiva sem "justa causa". Embora tenha sido condenado por um júri popular em 2013, ele apelou da decisão e deve, na visão do Supremo, aguardar o resultado do recurso em liberdade. Nesse vácuo, o Boa resolveu investir no jogador.
"[Nós rescindimos] primeiro porque o Bruno não cumpriu a pena dele. A pena dele é de mais de 22 anos e não foi concretizada. O desembargador de segunda instância já disse que ele vai ser julgado. Aí daqui a um mês ele volta para a prisão. É um marketing negativo o que estão fazendo. Não quero aparecer por aparecer. Nossa marca tem mais de 30 anos e temos de preservar nosso nome", disse Sergio Grer, diretor de marketing da Kanxa, em entrevista ao UOL Esporte.
Hoje o Boa se banca de vendas de jogadores e, principalmente, direitos de transmissão em competições como a Série B, que a princípio não devem ser afetados pela chegada de Bruno. A outra parceria importante é com a Prefeitura de Varginha, que paga o estádio, o CT, dois imóveis e mais uma verba mensal de cerca de R$ 30 mil para o clube, por força de lei, desde que eles se mudaram de Ituiutaba para Varginha em 2011.
"Vamos ter uma reunião lá na Prefeitura com os representantes do Executivo para decidir sobre essa questão", disse Zilda Silva, vereadora de Varginha pelo PSDB que também se diz contrária à contratação de Bruno.
Curiosamente, a maioria dos patrocinadores que romperam com o clube não escaparam da associação com Bruno. Na apresentação do goleiro, Gois&Silva, Nutrends e Kanxa estampavam a camisa que ele vestiu. A fornecedora de material esportivo do clube, que ainda negocia a rescisão unilateral com o Boa, prevê que isso dure por mais um tempo.
"A gente vai fazer o quê? Vou lá tirar à força? Se ele quiser continuar usando eu não tenho o que fazer, a não ser que eu entre na Justiça. Eu acho que ele vai usar até conseguir uma marca nova", disse Sergio Grer.