sexta-feira, 17 de março de 2017

Por que o clube de Bruno desdenha da fuga dos patrocinadores?

 Gustavo Franceschini Do UOL, em Varginha (MG) 16/03/201700h10 ... -
 

O Boa Esporte perdeu cinco patrocinadores desde que anunciou a contratação de Bruno. A debandada foi motivo de festa para quem se indignou com a contratação do goleiro, condenado em primeira instância a 22 anos de prisão no caso Eliza Samudio, mas a diretoria do clube fez pouco caso do assunto. Apoiados na verba que receberão pela participação na Série B, os cartolas dizem que o efeito negativo dos últimos dias não afetará o planejamento da equipe para 2017.
Há a expectativa de que novas empresas interessadas apareçam, mas esse nem é o fator principal para o desdém. A lógica é de que os valores perdidos não são tão relevantes no orçamento geral do clube, que depende fundamentalmente da verba de TV da Série B para sustentar seu planejamento.
"A gente espera até segunda anunciar um novo patrocinador. É a prova de que tem pessoas com sua filosofia de vida e outras que pensam como eu", disse Rone Moraes, presidente do clube, na última segunda, logo após apresentar Bruno à imprensa. Além de Kanxa, Gois&Silva, Nutrends, Cardiocenter e Magsul, a Prefeitura de Varginha também pode retirar o apoio nos próximos dias.
"Se a Prefeitura de Varginha não nos quiser aqui, vamos embora", disse o mesmo Rone em entrevista à Veja.com, na última segunda, repetindo uma frase que viria a proferir outras vezes longe das câmeras nos últimos dias. Fundado em Ituiutaba, o Boa ganhou o nome atual e mudou-se para Varginha em 2011 quando a Prefeitura da antiga sede alegou não poder bancar uma reforma no estádio. Agora, a mesma cidade pode servir como válvula de escape.
"O Fued [atual prefeito, eleito ano passado] fez uma campanha no sentido de terminar o estádio e trazer de volta o nosso querido Boa a Ituiutaba. Não foi uma promessa, pois depende de recurso federal, mas é sim um desejo. Independentemente do escândalo do Bruno, a volta do Ituiutaba Esporte seria uma questão de tempo. A história do Bruno causou um impacto muito negativo e pode, sim, acelerar o processo", disse Vicente de Paula, secretário de Obras da cidade, em entrevista ao site Hoje em Dia.
A postura de desdém tem se repetido em diferentes entrevistas desde que os rompimentos. Rone, Rildo e Roberto Moraes, os três irmãos que tocam o Boa, explicam que Nutrends, Cardiocenter e Magsul eram parceiros menores, que apenas forneciam serviços e produtos ao grupo. A situação é parecida com a Kanxa, fornecedora de material esportivo que não pagava nada ao Boa, apenas cedia os uniformes. A única "pagante" era a holding Gois&Silva, mas o valor não era fundamental no balanço da equipe.
Os rompimentos têm um efeito midiático e reforçam a indignação à contratação de Bruno, que foi solto porque o STF entendeu que ele estava em prisão preventiva sem "justa causa". Embora tenha sido condenado por um júri popular em 2013, ele apelou da decisão e deve, na visão do Supremo, aguardar o resultado do recurso em liberdade. Nesse vácuo, o Boa resolveu investir no jogador.
"[Nós rescindimos] primeiro porque o Bruno não cumpriu a pena dele. A pena dele é de mais de 22 anos e não foi concretizada. O desembargador de segunda instância já disse que ele vai ser julgado. Aí daqui a um mês ele volta para a prisão. É um marketing negativo o que estão fazendo. Não quero aparecer por aparecer. Nossa marca tem mais de 30 anos e temos de preservar nosso nome", disse Sergio Grer, diretor de marketing da Kanxa, em entrevista ao UOL Esporte.
Hoje o Boa se banca de vendas de jogadores e, principalmente, direitos de transmissão em competições como a Série B, que a princípio não devem ser afetados pela chegada de Bruno. A outra parceria importante é com a Prefeitura de Varginha, que paga o estádio, o CT, dois imóveis e mais uma verba mensal de cerca de R$ 30 mil para o clube, por força de lei, desde que eles se mudaram de Ituiutaba para Varginha em 2011.
"Vamos ter uma reunião lá na Prefeitura com os representantes do Executivo para decidir sobre essa questão", disse Zilda Silva, vereadora de Varginha pelo PSDB que também se diz contrária à contratação de Bruno.
Curiosamente, a maioria dos patrocinadores que romperam com o clube não escaparam da associação com Bruno. Na apresentação do goleiro, Gois&Silva, Nutrends e Kanxa estampavam a camisa que ele vestiu. A fornecedora de material esportivo do clube, que ainda negocia a rescisão unilateral com o Boa, prevê que isso dure por mais um tempo.
"A gente vai fazer o quê? Vou lá tirar à força? Se ele quiser continuar usando eu não tenho o que fazer, a não ser que eu entre na Justiça. Eu acho que ele vai usar até conseguir uma marca nova", disse Sergio Grer.

Como Varginha recebeu o goleiro Bruno?

http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2017/03/16/como-varginha-recebeu-o-goleiro-bruno-o-uol-esporte-conta.htm

Como Varginha recebeu o goleiro Bruno? O UOL Esporte conta
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Gustavo Franceschini
Do UOL, em São Paulo
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Em um intervalo de horas, a cidade do famoso ET virou manchete nacional: Bruno, condenado pelo assassinato cruel da ex-amante, estava chegando ao time da cidade. Varginha e seus 130 mil habitantes se dividiram, polemizaram e receberam o goleiro e a imprensa de forma heterogênea. Após dois dias na cidade, é isso que o UOL Esporte tenta mostrar a seguir:

Ressocialização x Impunidade

O debate na vida real de Varginha é o mesmo que se trava nas redes sociais. Pode Bruno, condenado a mais de 22 anos de prisão pelo assassinato de Eliza Samudio, voltar a jogar em um time de Série B? Com visibilidade e impacto social sem nem ter cumprido um terço da pena que lhe foi importa?
"Ele tinha de estar cumprindo a pena dele. Não vai ser um bom exemplo para a cidade também. Varginha tinha de procurar coisa melhor. Ele não se demonstra nem arrependido. Para a pessoa estar ressocializando tem de demonstrar pelo menos arrependimento", disse Rosemeire de Fátima, funcionária pública. Embora tenha sido condenado por um júri popular, o goleiro recorreu da decisão e o STF entendeu que ele deve aguardar a apreciação da apelação em liberdade.
Quem diz que sim argumenta que se a Justiça liberou Bruno, por que ele não poderia exercer sua profissão? "Todo mundo merece uma segunda chance" parece ser o grito uníssono dos que não veem em Bruno uma ameaça ou problema. "A gente não tem condição de julgar. O juiz liberou ele. Se ele ficar à toa talvez até volte a cometer outros crimes. Ele tem de trabalhar, ganhar dinheiro. Os torcedores do Boa são todos a favor", disse Itamar Estevão, aposentado.

Quero minha selfie com um famoso

Bruno, seu estafe e os dirigentes do Boa tentaram, desde o começo da semana, ignorar o caso de Eliza Samudio. Fugiram de perguntas sobre o processo e se esforçaram em apresentar o goleiro como um jogador qualquer que volta aos gramados após um período de inatividade – quase sete anos de prisão, no caso.
Quem se aproximou do Boa na condição de fã ajudou a corroborar a visão. Em todos os treinos de Bruno no estádio Rubro-Negro, CT do clube, cerca de 15 fãs compareceram para tietar. Os grupos variavam entre aqueles que de fato defendiam o goleiro e quem só queria um registro com um famoso.
"Tira um selfie comigo, Bruno?", era a frase repetida por famílias completas, com mulheres e crianças. Adolescentes tentavam espiar os treinos físicos de Bruno, senhoras de idade davam abraços como se confraternizassem com um netinho e homens adultos, não raro flamenguistas que já idolatraram o goleiro, falavam de como ele voltaria a se destacar no futebol.

Maioria contra? Pode ser, mas silenciosa

Fora da área de influência direta do Boa, era mais fácil encontrar quem visse na contratação de Bruno uma novidade absurda. No centro da cidade, as opiniões de indignação eram até mais comuns que as de apoio.
"Toda pessoa que você fala acha um absurdo. Onde está a coitada da Elisa? O Boa é sem vergonha", disse Ivone Borges, do lar. "Com certeza [a cidade] está contra. Está contra porque o crime que ele fez não foi matar um pernilongo. Ele matou a menina, não falou nada, não pagou pelo que ele fez", disse o vigilante Alex Dias.
O problema é que quem torceu o nariz, não raro o fez em silêncio. A suposta minoria que apoiou Bruno se aproximou do goleiro, encontrou a imprensa que foi até Varginha especialmente por conta do caso e ganhou mais espaço. "Ninguém aguenta ver mais a minha cara na TV', disse Elizabete Batista, aposentada que fez questão de aparecer em seguidas entrevistas defendendo, sorridente, a chegada de Bruno ao Boa.

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