segunda-feira, 18 de abril de 2011

Arezzo promete recolher peças feitas com peles de animais

Após revolta nas redes sociais, marca de calçados e acessórios femininos não pede desculpas, mas decide retirar coleção polêmica de todas as lojas do BrasilJosé Gabriel Navarro
»
Bolsa com pele de raposa, à venda por R$ 999 Crédito: Reprodução
Na última quinta-feira, 14, a Arezzo — considerada maior marca de varejo de sapatos femininos da América Latina — lançou a coleção PeleMania, com calçados, bolsas e echarpes com peles de raposa e de coelho, lã de ovelha e couro natural. Não durou nem uma semana.
Desde que a série de produtos passou a ser divulgada, a grife brasileira foi alvo de protestos incessantes nas redes sociais. Até a publicação desta reportagem, por exemplo, a hashtag #Arezzo continuava em primeiro lugar nos Trending Topics do Brasil no Twitter (ranking de assuntos mais comentados do site).
Até que, nesta segunda-feira, 18, às 15h26, a empresa comunicou por meio de seu perfil no Facebook que “por respeito aos consumidores contrários ao uso desses materiais”, está recolhendo de todas as suas lojas do Brasil “as peças com pele exótica em sua composição, mantendo somente as peças com peles sintéticas”. A Arezzo, porém, não pediu desculpas no informe, e afirmou que as matérias-primas dos sapatos e adereços da coleção são “devidamente regulamentadas e certificadas, cumprindo todas as formalidades legais que envolvem a questão”.
“Não entendemos como nossa responsabilidade o debate de uma causa tão ampla e controversa”, diz o comunicado da empresa. A homepage do site da Arezzo não apresenta nenhum esclarecimento sobre o tema. Segundo a própria organização, sua receita líquida no ano fiscal encerrado em setembro de 2010 foi de R$ 395 milhões.
Leia abaixo o informe completo da Arezzo no Facebook:
Prezados consumidores,
A Arezzo entende e respeita as opiniões e manifestações contrárias ao uso de peles exóticas na confecção de produtos de vestuário e acessórios.
Por isso, vimos por meio deste nos posicionar sobre o episódio envolvendo nossas peças com peles exóticas - devidamente regulamentadas e certificadas, cumprindo todas as formalidades legais que envolvem a questão.
Não entendemos como nossa responsabilidade o debate de uma causa tão ampla e controversa.
Um dos nossos principais compromissos é oferecer as tendências de moda de forma ágil e acessível aos nossos consumidores, amparados pelos preceitos de transparência e respeito aos nossos clientes e valores.
E por respeito aos consumidores contrários ao uso desses materiais, estamos recolhendo em todas as nossas lojas do Brasil as peças com pele exótica em sua composição, mantendo somente as peças com peles sintéticas.
Reafirmamos nosso compromisso com a satisfação de nossos clientes e com a transparência das atitudes da Arezzo.
Atenciosamente,

Equipe Arezzo

VIVEMOS TEMPOS EM QUE O CONSUMIDOR EXIGE CADA VEZ MAIS ...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A radio Cultura entra em campo

Jogada ensaiada


Vladir Lemos
12.04.2011

Foi assim que se deu. Enquanto corria a bola da história os dois se inspiravam. O prazer de se admirar era mútuo. A aproximação, então, foi se desenhando até que um dia finalmente a prova de que eles, enfim, tinham se enamorado apareceu.



Muitos são os estudiosos que consideram o choro "Um a zero", de Pixinguinha e Benedito Lacerda, a primeira música feita no Brasil sobre futebol. Mas tem gente que diz que esse jogo começou bem antes e que o primeiro a fazer esse gol foi Bonfiglio de Oliveira, em 1912, com um outro choro, batizado de "Flamengo".

Um a zero - Pixinguinha
A obra de Pixinguinha e Benedito Lacerda nasceu da conquista do Campeonato Sul-Americano de 1919 pela seleção brasileira. E pouco importa se Pixinguinha e Benedito Lacerda estavam, ou não, nas arquibancadas do estádio das Laranjeiras naquele dia distante. Importa é que a primeira conquista internacional da nossa seleção tinha virado música. Um lance genial, mas sem razão para grande surpresa, afinal, Pixinguinha está para a música assim como Zizinho está para o futebol. As obras criadas depois desse pontapé inicial dado pelo autor de "Carinhoso" são todas provas cabais de que o futebol está cada vez mais à vontade no campo musical. Fizemos com a música o que fizemos com o jogo de bola, não os inventamos mas os recriamos do nosso jeito.
O time de escalação mista que você vê acima reflete com a precisão de um spala a riqueza que inunda o nosso jeito de encarar uma pelada, de tocar um instrumento ou de cantar. Não foi por acaso que em momentos importantes da nossa trajetória futebolística a nação se viu unida num refrão, numa levada, às vezes até oportunista mas, acima de tudo, musical.
E graças a esse flerte produtivo o universo sonoro dos nossos times hoje em dia vai muito além dos hinos. E mesmo eles, os hinos, tiveram a honra de se transmutar em jogadas de gênios. Lamartine Babo, com estilo um tanto fominha, entrou no jogo pra valer e foi logo ditando as palavras e as melodias que iriam enaltecer os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro.
Se hoje em dia no programa "Fantástico", da Rede Globo, quem faz três gols pede música, Lamartine teria direito a quê? Ary Barroso é outra figura que representa bem a fina linha que separa o futebol e a música desde que aquele placar mínimo foi eternizado em notas musicais.
De lá pra cá um sem número de jogos, de lances, de noites, de momentos virtuosos, compõem essa seleção que aqui está. Entre as quatro linhas do gramado e as cinco linhas da partitura existe um Brasil. Um Brasil fino, bem explorado, harmonioso, cheio de ritmo, um Brasil sentimentalmente traduzido.
Não será a primeira vez que você ouvirá uma música que alguém fez para o seu time, mas a sensação que você poderá experimentar ao ficar cara a cara com esse trabalho de pesquisa é a de uma vitória, de um drible, de uma curtição que nunca veio, que você nunca sentiu.
Nobre entrosamento entre duas artes que a série Jogada Ensaiada, do portal Cultura Brasil, faz questão de apresentar. Um especial que, por meio de seleções musicais e galerias de imagens, conta parte da história de quatro grandes equipes do futebol brasileiro: Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo. Foram mais de dois meses de pesquisa, com a colaboração dos departamentos de história e comunicação desses clubes.
Nessas quatro playlists (links ao lado) estão a possibilidade de um sarro futebolístico rimado, um sarro ludopédico que esbanja sonoridade. Sim, tudo isso está aqui. Os craques que decidiram fazer essa "peneira" colocaram em campo também uma outra possibilidade, a possibilidade de te fazer sentir ainda mais orgulho do seu time, da nossa música e do nosso futebol.
[ ] VLADIR LEMOS é apresentador do programa Cartão Verde, da TV Cultura.



AGRADECIMENTOS


Ao ilustrador Eduardo Baptistão, ao CEDOC da Fundação Padre Anchieta, a Eduardo Brandini (gerente de Multiplataformas) e ao jornalista Vladir Lemos.


Disponivel em: http://www.culturabrasil.com.br/especiais/jogada-ensaiada/jogada-ensaiada-4Acesso em 13 de abril


terça-feira, 5 de abril de 2011

As novidades de sempre


Sempre que saio do Brasil, volto um pouco apreensivo. Faltam notícias lá fora e aqui as coisas mudam muito depressa - onde havia um cinema brota à noite uma igreja, onde se enxergava um político honesto pulula um meliante, o que ontem era a via correta vira contramão e assim por diante. A partir de certa idade, convém ser precavido, acabar de chegar em casa com calma, não ligar a televisão imediatamente e deixar para abrir os jornais depois de falar com alguns amigos. Eles saberiam contar jeitosamente qualquer novidade inquietante ou capaz de nos abalar a fé no futuro da nação.



Com alívio, logo vejo que não me esperavam novidades inquietantes. Fala-se ainda na visita do presidente Obama e até a vi reprisada, num desses canais anônimos de televisão a cabo que ficam perto daqueles especializados em selvas com aborígenes australianos que só sabem contar até dois e



costumam comer os miolos de visitantes e vizinhos. Não entendi direito a razão da vinda dele. Muito simpático, dizendo frases em português e sorrindo para lá e para cá, mas causando a sensação de que se tratava de uma visita sem a qual ou com a qual tudo permaneceria tal e qual. Como, aliás, se não me ludibria a pérfida memória, todas as visitas de presidentes americanos ao Brasil, inclusive aquela em que Reagan achou que estava na Colômbia. Desta vez, creio que podemos ufanar-nos em ter certeza de que Obama sabia que não estava na Colômbia, mas acho que até o George Bush também já sabia, de maneira que, como sempre, não aconteceu nada.



Uma reportagem mostra a situação das estradas do Brasil. Acho que somos o povo que mais assistiu e assiste a documentários sobre a situação de estradas. Acredito mesmo que, se alguém fizer a conta, vai concluir que oito em cada dez reportagens longas feitas no Brasil, desde o começo das reportagens filmadas, são sobre a péssima situação das estradas, a queda de barreiras e pontes, os atoleiros, o isolamento de cidades, os acidentes calamitosos, a falta de fiscalização e outros itens de uma lista que qualquer um tem na cabeça. Apenas um detalhe novo: descobriram que se vende cocaína em postos de abastecimento nas estradas, aceitando-se cartões de crédito para pagamento. Possivelmente, o comércio de cocaína nos postos sofrerá um abalo, mas, ao mesmo tempo, sabe-se que os caminhoneiros trabalham sob pressão e muitos recorrem a drogas, ilícitas ou não, para trabalhar em turnos absurdos, o que é certamente causa para acidentes. Quanto a isto, não se fará nada.



Os cartões de crédito, por falar neles, agora vão pagar mais impostos, quando usados por brasileiros no exterior. O Estado (o governo, aliás; é besteira a gente querer insistir, por implicância terminológica, em distinguir governo de Estado - isso é em outros países, aqui é a mesma coisa) agora vai morder quase sete por cento do que se comprar com cartão de crédito em moeda estrangeira. O novo classe média comprou lembrancinha em Buenos Aires para trazer para um amigo, imposto nele. Não é por nada, não, mas não se pode deixar de observar - cala-te, boca - que roubar dinheiro e malocá-lo na Suíça pode sem pagar nada, mas quem quiser gastar dinheirinho suado, só pagando. Inventar impostos e taxas e aumentar os existentes permanece uma característica nacional, dir-se-ia mesmo um esporte para os nossos governantes. E, na nossa postura habitual - rabo entre as pernas, mas com altivez - continuaremos a falar, escrever, dar entrevistas e fazer discursos sobre nossa tosquiadora carga fiscal e a não fazer nada para combatê-la. E, se insistirmos em protestar, algum burocrata cria o imposto sobre reforma tributária, a ser pago por todos os que proponham diminuir ou extinguir qualquer imposto.



Aquela conversa da ficha limpa, demonstração do tão falado poder da opinião pública e da Internet, parece ter desandado um pouco, durante minha ausência. Quer dizer, desandou para quem foi na onda de a vontade popular isso e aquilo, pois não sei qual é a vontade popular que anda aqui assim tão levada em conta. O que se viu, por decisão do governo (o Supremo também é governo e aqui no Brasil é governo mesmo, se bem me expresso), é que a tal lei da ficha limpa só vai valer depois. E, ouso acrescentar, quando chegar esse depois, aí ela só vai valer depois desse depois. Teremos muitos depois pela frente, até esquecermos essa bobajada de ficha limpa.



Finalmente, encontrei um certo auê em torno da corrupção nas áreas de saúde e educação. As reportagens sobre condições de atendimento nos hospitais públicos são somente um pouquinho menos abundantes que as dos problemas das estradas. Não se passa dia sem que a gente veja duas ou três, uma sobre a senhora que esperou atendimento numa maca ao relento e morreu desassistida depois de cinco dias nessas condições, outra sobre a grávida que foi recusada em maternidades até morrer, outra sobre a criança em cuja veia injetaram glicerina. Isso entremeado por intervalos em que o governo, em comerciais às vezes melosos, às vezes vibrantes, nos mostra como a saúde está mais bem atendida do que nunca e como somos um povo cada dia mais feliz, robusto e de dentes reluzentes.

Robustos, de dentes reluzentes e rindo para as paredes estão, sim, os planos de saúde privados, que metem a mão no que querem, do jeito que querem, sem que ninguém proteja os usuários pagantes, cada vez mais tratados como indigentes. E estão as centenas de máfias internacionais, nacionais, regionais e locais em torno da saúde pública. São as máfias dos remédios, dos equipamentos, dos funerais, dos falsos atestados, dos desvios de verba e de tudo mais que adeja como abutre por cima da saúde pública. Tudo, enfim, é mais um pouco das novidades de sempre. Pensando bem, nada aqui muda.


O Futebol Brasileiro precisa rever seus torcedores

O texto abaixo deve ser lido e refletido por todos que  gostam e  investem em futebol.  As duas ações ocorridas no final de ...