Jogada ensaiada
Vladir Lemos
12.04.2011
Foi assim que se deu. Enquanto corria a bola da história os dois se inspiravam. O prazer de se admirar era mútuo. A aproximação, então, foi se desenhando até que um dia finalmente a prova de que eles, enfim, tinham se enamorado apareceu.
Muitos são os estudiosos que consideram o choro "Um a zero", de Pixinguinha e Benedito Lacerda, a primeira música feita no Brasil sobre futebol. Mas tem gente que diz que esse jogo começou bem antes e que o primeiro a fazer esse gol foi Bonfiglio de Oliveira, em 1912, com um outro choro, batizado de "Flamengo".
Um a zero - Pixinguinha
A obra de Pixinguinha e Benedito Lacerda nasceu da conquista do Campeonato Sul-Americano de 1919 pela seleção brasileira. E pouco importa se Pixinguinha e Benedito Lacerda estavam, ou não, nas arquibancadas do estádio das Laranjeiras naquele dia distante. Importa é que a primeira conquista internacional da nossa seleção tinha virado música. Um lance genial, mas sem razão para grande surpresa, afinal, Pixinguinha está para a música assim como Zizinho está para o futebol. As obras criadas depois desse pontapé inicial dado pelo autor de "Carinhoso" são todas provas cabais de que o futebol está cada vez mais à vontade no campo musical. Fizemos com a música o que fizemos com o jogo de bola, não os inventamos mas os recriamos do nosso jeito.
O time de escalação mista que você vê acima reflete com a precisão de um spala a riqueza que inunda o nosso jeito de encarar uma pelada, de tocar um instrumento ou de cantar. Não foi por acaso que em momentos importantes da nossa trajetória futebolística a nação se viu unida num refrão, numa levada, às vezes até oportunista mas, acima de tudo, musical.
E graças a esse flerte produtivo o universo sonoro dos nossos times hoje em dia vai muito além dos hinos. E mesmo eles, os hinos, tiveram a honra de se transmutar em jogadas de gênios. Lamartine Babo, com estilo um tanto fominha, entrou no jogo pra valer e foi logo ditando as palavras e as melodias que iriam enaltecer os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro.
Se hoje em dia no programa "Fantástico", da Rede Globo, quem faz três gols pede música, Lamartine teria direito a quê? Ary Barroso é outra figura que representa bem a fina linha que separa o futebol e a música desde que aquele placar mínimo foi eternizado em notas musicais.
De lá pra cá um sem número de jogos, de lances, de noites, de momentos virtuosos, compõem essa seleção que aqui está. Entre as quatro linhas do gramado e as cinco linhas da partitura existe um Brasil. Um Brasil fino, bem explorado, harmonioso, cheio de ritmo, um Brasil sentimentalmente traduzido.
Não será a primeira vez que você ouvirá uma música que alguém fez para o seu time, mas a sensação que você poderá experimentar ao ficar cara a cara com esse trabalho de pesquisa é a de uma vitória, de um drible, de uma curtição que nunca veio, que você nunca sentiu.
Nobre entrosamento entre duas artes que a série Jogada Ensaiada, do portal Cultura Brasil, faz questão de apresentar. Um especial que, por meio de seleções musicais e galerias de imagens, conta parte da história de quatro grandes equipes do futebol brasileiro: Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo. Foram mais de dois meses de pesquisa, com a colaboração dos departamentos de história e comunicação desses clubes.
Nessas quatro playlists (links ao lado) estão a possibilidade de um sarro futebolístico rimado, um sarro ludopédico que esbanja sonoridade. Sim, tudo isso está aqui. Os craques que decidiram fazer essa "peneira" colocaram em campo também uma outra possibilidade, a possibilidade de te fazer sentir ainda mais orgulho do seu time, da nossa música e do nosso futebol.
[ ] VLADIR LEMOS é apresentador do programa Cartão Verde, da TV Cultura.
AGRADECIMENTOS
Ao ilustrador Eduardo Baptistão, ao CEDOC da Fundação Padre Anchieta, a Eduardo Brandini (gerente de Multiplataformas) e ao jornalista Vladir Lemos.
Disponivel em: http://www.culturabrasil.com.br/especiais/jogada-ensaiada/jogada-ensaiada-4Acesso em 13 de abril
Vladir Lemos
12.04.2011
Foi assim que se deu. Enquanto corria a bola da história os dois se inspiravam. O prazer de se admirar era mútuo. A aproximação, então, foi se desenhando até que um dia finalmente a prova de que eles, enfim, tinham se enamorado apareceu.
Muitos são os estudiosos que consideram o choro "Um a zero", de Pixinguinha e Benedito Lacerda, a primeira música feita no Brasil sobre futebol. Mas tem gente que diz que esse jogo começou bem antes e que o primeiro a fazer esse gol foi Bonfiglio de Oliveira, em 1912, com um outro choro, batizado de "Flamengo".
Um a zero - Pixinguinha
A obra de Pixinguinha e Benedito Lacerda nasceu da conquista do Campeonato Sul-Americano de 1919 pela seleção brasileira. E pouco importa se Pixinguinha e Benedito Lacerda estavam, ou não, nas arquibancadas do estádio das Laranjeiras naquele dia distante. Importa é que a primeira conquista internacional da nossa seleção tinha virado música. Um lance genial, mas sem razão para grande surpresa, afinal, Pixinguinha está para a música assim como Zizinho está para o futebol. As obras criadas depois desse pontapé inicial dado pelo autor de "Carinhoso" são todas provas cabais de que o futebol está cada vez mais à vontade no campo musical. Fizemos com a música o que fizemos com o jogo de bola, não os inventamos mas os recriamos do nosso jeito.
O time de escalação mista que você vê acima reflete com a precisão de um spala a riqueza que inunda o nosso jeito de encarar uma pelada, de tocar um instrumento ou de cantar. Não foi por acaso que em momentos importantes da nossa trajetória futebolística a nação se viu unida num refrão, numa levada, às vezes até oportunista mas, acima de tudo, musical.
E graças a esse flerte produtivo o universo sonoro dos nossos times hoje em dia vai muito além dos hinos. E mesmo eles, os hinos, tiveram a honra de se transmutar em jogadas de gênios. Lamartine Babo, com estilo um tanto fominha, entrou no jogo pra valer e foi logo ditando as palavras e as melodias que iriam enaltecer os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro.
Se hoje em dia no programa "Fantástico", da Rede Globo, quem faz três gols pede música, Lamartine teria direito a quê? Ary Barroso é outra figura que representa bem a fina linha que separa o futebol e a música desde que aquele placar mínimo foi eternizado em notas musicais.
De lá pra cá um sem número de jogos, de lances, de noites, de momentos virtuosos, compõem essa seleção que aqui está. Entre as quatro linhas do gramado e as cinco linhas da partitura existe um Brasil. Um Brasil fino, bem explorado, harmonioso, cheio de ritmo, um Brasil sentimentalmente traduzido.
Não será a primeira vez que você ouvirá uma música que alguém fez para o seu time, mas a sensação que você poderá experimentar ao ficar cara a cara com esse trabalho de pesquisa é a de uma vitória, de um drible, de uma curtição que nunca veio, que você nunca sentiu.
Nobre entrosamento entre duas artes que a série Jogada Ensaiada, do portal Cultura Brasil, faz questão de apresentar. Um especial que, por meio de seleções musicais e galerias de imagens, conta parte da história de quatro grandes equipes do futebol brasileiro: Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo. Foram mais de dois meses de pesquisa, com a colaboração dos departamentos de história e comunicação desses clubes.
Nessas quatro playlists (links ao lado) estão a possibilidade de um sarro futebolístico rimado, um sarro ludopédico que esbanja sonoridade. Sim, tudo isso está aqui. Os craques que decidiram fazer essa "peneira" colocaram em campo também uma outra possibilidade, a possibilidade de te fazer sentir ainda mais orgulho do seu time, da nossa música e do nosso futebol.
[ ] VLADIR LEMOS é apresentador do programa Cartão Verde, da TV Cultura.
AGRADECIMENTOS
Ao ilustrador Eduardo Baptistão, ao CEDOC da Fundação Padre Anchieta, a Eduardo Brandini (gerente de Multiplataformas) e ao jornalista Vladir Lemos.
Disponivel em: http://www.culturabrasil.com.br/especiais/jogada-ensaiada/jogada-ensaiada-4Acesso em 13 de abril
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