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Crítica - O Homem ao Lado
17 de maio de 2011
Que atire a primeira pedra aquele que, se não chegou às vias de uma briga verdadeira, já não teve ao menos uma porção do mais intrínseco e puro ódio por um vizinho. Coexistir em um mesmo espaço nunca foi uma tarefa propriamente fácil para os seres humanos, e vivendo em realidades urbanas cada vez mais apertadas, se entender com o "outro" é uma necessidade essencial para uma vida com mais qualidade. E não é exatamente pacífica a convivência dos vizinhos argentinos de O Homem ao Lado. Leonardo é um designer e professor que se tornou mundialmente conhecido pela criação de uma cadeira várias vezes premiada, e que agora vive de sua fama, com sua esposa e filha, em uma famosa casa de Buenos Aires. A casa, em que se passa toda a história, é a única em toda a América Latina assinada pelo mestre do modernismo Le Corbusier, e representa todo um ideal de habitação funcional e estética clean.
O conflito começa quando o vizinho de parede de Leonardo, Victor, começa a abrir uma janela que dá diretamente para a casa do professor, e de onde se tem um ponto de vista privilegiado do interior da casa – já que a habitação é caracterizada por grandes janelas, vidros e passagens de luz. Assim surge o primeiro contraste do filme, pois a necessidade de Victor pela janela é justamente capturar alguns raios de sol para sua casa escura, mas se sentindo terrivelmente invadido, Leonardo é inflexível com a carência de seu vizinho.
Mas o enfrentamento franco e a sinceridade não são propriamente as maneiras de Leonardo lutar contra seu invasor, que é um brutamontes até simpático, mas intimidador e sem meias palavras. Victor é um tipo de gostos caricaturalmente kitsch, anda em seu furgão preto – com uma discoteca interna – bebe mate em uma caneca de pé de bode, e inventa seus próprios utensílios domésticos. Leonardo segue se escondendo atrás de sua fama e suposta superioridade, ao passo que Victor usa sua franqueza e tenta alcançar a amizade de Leonardo para apaziaguar o conflito.
O ponto fundamental de O Homem Ao Lado é a simultânea crítica/homenagem feita pelos diretores ao design e arquitetura em geral. Ao longo de todo o filme a casa de Le Corbusier (a história da casa é real) é valorizada pela fotografia e direção de arte, mostrando ricamente seus detalhes, mas muitas vezes a figura de Victor aparece como um tapa na cara, questionando a noção de superioridade prática e beleza estética do "alto" design. Faltou dizer que toda essa briga e contraste são – antes que se pense o contrário – uma gostosa comédia de cotidiano, com detalhes cheios de significado espalhados por todo o filme. A obra é parada obrigatória para designers, arquitetos e simpatizantes, e deve render boas conversas depois da exibição.
http://www.cinemanarede.com/2011/05/critica-o-homem-ao-lado.html
Por: Lucas Siqueira Cesar
um filme que reflete a sociedade contemporânea, seus modismos, suas intolerâncias, suas diferenças
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