Luis Fernando Verissimo - O Estado de S.Paulo
13 de janeiro de 2011
Nosso time é a nossa segunda pátria. Tem até hino e bandeira, como a outra pátria. Conhecemos a sua história, cantamos as suas glórias, queremos vê-la sempre vitoriosa entre as nações e a amamos com fervor. Mas, assim como acontece com a pátria de verdade, nem sempre sabemos o que amamos. Ser brasileiro é de nascença, mas o time a gente escolhe, geralmente seguindo uma tradição familiar, ou influenciado por alguém, ou pelo fato do time estar em evidência no momento, ou pela simples simpatia. E o que é, exatamente, o objeto dessa paixão que nos pega desde pequenos e nunca nos larga? Não é o clube como entidade social, este nem nos pertence. Suas cores e seus símbolos nos emocionam, mas são apenas cores e símbolos - embora muita gente morra por apenas cores e símbolos. Amamos os jogadores, o time? Mas o time é provisório, é mesmo o que há de mais transitório e fugas nesse estranho relacionamento. O que amamos, então, é uma abstração, uma ilusão de continuidade mesmo que o time seja sempre outro. Um ideal romântico. O amor por um time é o último exemplo de romantismo puro do mundo.
O problema na relação da torcida com o jogador é este: a torcida ainda vive no século 19, os jogadores vivem na era do realismo prático. O jogador ideal da torcida é o que se forma no clube, sobe das divisões de base para o time titular como grande revelação, recebe propostas fabulosas para mudar de time, mas mantem-se fiel à camiseta. Enfim, não trai a pátria. Um perfeito herói romântico. Claro que o ideal é frágil e os torcedores já se resignaram aos novos tempos de empresários sem fronteiras, negócios sem limites e jogadores sem espírito de torcedor, mas vez que outra assoma o romantismo. O retorno do Ronaldinho ao Grêmio, de onde saiu mal há dez anos - se tudo acontecesse como o Grêmio queria -, seria um triunfo de folhetim à antiga. Um filho do clube voltando perdoado e (se ainda jogasse metade do que jogava no seu auge) levando o time a novas grandes conquistas, resgataria o romantismo de um mundo tornado cínico e sem grandeza. Infelizmente - inclusive para a literatura - não deu certo.
Tópicos: , Cultura, Versão impressa
Disponivel < http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110113/not_imp665428,0.php> acesso em 17 janeiro de 2011
Pós-doutora em Comunicação pela ECA-USP: Doutora e Mestre em Comunicação e Semiótica pela Puc - SP; Profa Profa ESPM , São Judas, ítalo-Brasileiro, Mackenzie, Casper Líbero.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
O Futebol Brasileiro precisa rever seus torcedores
O texto abaixo deve ser lido e refletido por todos que gostam e investem em futebol. As duas ações ocorridas no final de ...
/s2.glbimg.com/f0Wc-R8tt1EV2vkMYb9DgYUOb0U%3D/0x0%3A300x300/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_bc8228b6673f488aa253bbcb03c80ec5/internal_photos/bs/2019/1/g/hbdt7ARhWGHYB8vl2B5w/lozetti.jpg)
-
O meteoro Gabriel Jesus: joia pode ir da várzea à Inglaterra em 5 anos Jovem caminha para iniciar 2017 já como atleta do Manchester Cit...
-
Cleo Pires e Paulinho Vilhena estrelam campanha controversa das Paralimpíadas Nas imagens de divulgação do evento, que será em setembro,...
-
Laxmi Sargara casou com apenas um ano de idade devido a um acordo entre famílias Indiana comemorou a anulação aceita pelo Tribunal de Jod...
Nenhum comentário:
Postar um comentário