segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A foto de final de ano segundo verissimo


Foi numa festa de família, dessas de fim de ano. Já que o bisavô estava morre não morre, decidiram tirar uma fotografia de toda a família reunida, talvez pela última vez. A bisa e o bisa sentados, filhos, filhas, noras, genros e netos em volta, bisnetos na frente, esparramados pelo chão. Castelo, o dono da câmara, comandou a pose, depois tirou o olho do visor e ofereceu a câmara a quem ia tirar a fotografia. Mas quem ia tirar a fotografia?

- Tira você mesmo, ué.

- Ah, é? E eu não saiu na foto?



O Castelo era o genro mais velho. O primeiro genro. O que sustentava os velhos. Tinha que estar na fotografia.



- Tiro eu – disse o marido da Bitinha.

- Você fica aqui – comandou a Bitinha.



Havia uma certa resistência ao marido da Bitinha na família. A Bitinha, orgulhosa, insistia para que o marido reagisse. “Não deixa eles te humilharem, Mário Cesar”, dizia sempre. O Mário Cesar ficou firme onde estava, do lado da mulher. A própria Bitinha fez a sugestão maldosa:



- Acho que quem deve tirar é o Dudu…



O Dudu era o filho mais novo de Andradina, uma das noras, casada com o Luiz Olavo. Havia a suspeita, nunca claramente anunciada, de que não fosse o filho do Luiz Olavo. O Dudu se prontificou a tirar a fotografia, mas Andradina segurou o filho.
- Só faltava essa, o Dudu não sair.
E agora?
- Pô, Castelo. Você disse que essa câmara só faltava falar. E não tem nem timer!
O Castelo impávido. Tinham ciúmes dele. Porque ele tinha um Santana do ano. Porque comprara a câmara num duty free da Europa. Aliás, o apelido dele entre os outros era “Dutifri”, mas ele não sabia.
- Revezamento – sugeriu alguém – Cada genro bate uma foto em que ele não aparece, e…

A idéia foi sepultada em protestos. Tinha que ser toda a família reunida em volta da bisa. Foi quando o próprio bisa se ergueu, caminhou decididamente até o Castelo e arrancou a câmara da sua mão.
- Dá aqui.

- Mas seu Domício…

- Vai pra lá e fica quieto.

- Papai, o senhor tem que sair na foto. Senão não tem sentido!

- Eu fico implícito – disse o velho, já com o olho no visor.

E antes que houvesse mais protestos, acionou a câmara, tirou a foto e foi dormir.

Disponivel em : http://www.portallos.com.br/2008/11/30/cronicas-verissimo-a-foto/ acesso em 27 de dezembro

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